segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Estória de Alferes Fernando

Estória de Alferes Fernando


Numa terra perdida no meio da Terra, nasceu, numa noite fria, um rapaz. Era um rapaz normal, duas pernas, dois braços e um coração que se iria revelar enorme.

Cresceu, calcorreando as pedras daquela Beira, descalço e pobre, vivendo no tempo em que uma sardinha davam para uma família de 7 pessoas.

Quando ia à vila, ia descalço e sujo, por montes e valados, levava a roupa num saco, para não se sujar e trocava quando lá chegava.


O rapaz cresceu e foi para África. Terra quente, de desafios desconhecidos. Trabalhador como a vida o tinha obrigado a ser, começou a abrir o seu negócio. Uma loja. Duas lojas. Três lojas. Duzentas lojas. Entretanto chegou a sua família e os filhos começaram a aparecer. Um, dois, três, quatro, cinco. Num fôlego a casa cresceu e a guerra estalou. ..

Embarcou, então para as origens de sua esposa, perdendo tudo aquilo que anos e anos de trabalho tinham criado. Fizeram-se as contas e ainda deu para comprar uma casita. E apareceram os filhos seis e sete. Entretanto, com os trocos que sobraram da casita, construiu-se uma Escola.

Era uma escola criada para educar uma cidade e uma região. E Alferes Fernando, sem nunca ter ido à tropa, levantava-se de madrugada para ir buscar os alunos que não tinham transporte para estudar.

E como a vida continuava, indiferente aos trabalhos que apareciam, apareceram os filhos dos filhos. Do um até ao quinze. E os filhos dos filhos dos filhos. E Alferes Fernando era pai, avô e bisavô. E, mesmo assim, ainda conseguia ir à pesca, fazer queijo fresco pela manhã e sofrer muito, muito, muito pelo seu Glorioso.

Treinado pela prática da sua infância, conseguiu fugir aos anos com muita ligeireza. No entanto, quando as pernas começaram a fraquejar, tropeçou e caiu. Duas vezes. Com paciência e muito amor e carinho tentou ganhar o balanço que lhe faltava para acabar a corrida da sua vida. Conseguiu, nunca se deixando derrotar pelos "até logo" que faziam aparecer os anjos no céu.

Num dia destes, Alferes Fernando tirou as divisas. Colocou a farda de lado. Sorriu. Dormiu e descansou.

Por tudo, pela inspiração, orgulho e educação. Pelos genes, valores e louvores, digo o meu grande, grande obrigado.


E choro a saudade.



10.08.1912 - 28.12.2009

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Palavras para quê?

«Não temos que pensar que a natureza humana tem que ser perfeita para que possamos acreditar que ela pode ser melhorada. Não temos que viver num Mundo idealizado para que possamos procurar os ideais que irão fazer do Mundo um sítio melhor»


Barack Hussein Obama II, 2009

Ah e tal...

Já lá vai um tempo desde que escrevi aqui a última vez...

Acho que ter um blogue e ninguém o ler é uma coisa um bocado deprimente, mas pronto..

Vive-se esta deprimência e pronto.


Na Primavera, o inebriamento de brisas de flores e frutos maduros que medram nos lábios quentes.
No Verão, o cheiro a terra seca, a sorte de uma brisa clandestina que arrepia o suor da pele.
No Outono, poesia. De folhas a dançar no Siroco, de castanhas a estalar no carvão. De lenha a começar a estalar na lareira. Da vontade de ler livros ao sábado à tarde quando se está enrolado naquela manta muito velha que a nossa mãe tem há anos.
No Inverno, a austeridade da Terra a mostrar quem manda, da geada que transforma o verde em branco. Nos narizes que nos saúdam quando uma nuvem de vapor desenha um "Bom dia".


Alentejo, és palavras que ninguém inventou...

sábado, 28 de novembro de 2009

Vincent

Starry
starry night
paint your palette blue and grey

look out on a summer's day
with eyes that know the
darkness in my soul.
Shadows on the hills
sketch the trees and the daffodils

catch the breeze and the winter chills

in colors on the snowy linen land.
And now I understand what you tried to say to me

how you suffered for your sanity
how you tried to set them free.
They would not listen
they did not know how

perhaps they'll listen now.

Starry
starry night
flaming flo'rs that brightly blaze

swirling clouds in violet haze reflect in
Vincent's eyes of China blue.
Colors changing hue
morning fields of amber grain

weathered faces lined in pain
are soothed beneath the artist's
loving hand.
And now I understand what you tried to say to me

how you suffered for your sanity
how you tried to set them free.
perhaps they'll listen now.

For they could not love you
but still your love was true

and when no hope was left in sight on that starry
starry night.
You took your life
as lovers often do;
But I could have told you
Vincent
this world was never
meant for one
as beautiful as you.

Starry
starry night
portraits hung in empty halls

frameless heads on nameless walls
with eyes
that watch the world and can't forget.
Like the stranger that you've met

the ragged men in ragged clothes

the silver thorn of bloddy rose
lie crushed and broken
on the virgin snow.
And now I think I know what you tried to say to me

how you suffered for your sanity

how you tried to set them free.
They would not listen
they're not
list'ning still
perhaps they never will.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Mote

"Cada qual é artífice da sua própria fortuna", Gnaius Julius Cesar


Desemprego atinge 9,8% da população portuguesa. E o mais curioso é que, cada vez que abro "O Facadas" (vulgo correio da manhã), os classificados são mais que muitos.

De cada vez que vou aos sites online de emprego, as ofertas sucedem-se alucinantemente.

De cada vez que vou a um centro comercial leio "procura-se colaborador(a)".

9,8%?!?! Mas que raio!!!! São quase um milhão de portugueses, analisando brutamente os números..

Há principalmente duas classes de desempregados que me deixam particularmente triste com a nossa realidade:

Pessoas com cerca de 50 anos que foram despedidas do seu local de trabalho

Recém-licenciados.


Passo a explicar. Uma pessoa que tem 50 anos teve uma formação profissional muito distante do que é a realidade dos nossos dias. A informática existia nos filmes de ficção científica, os idiomas estrangeiros eram muito raros, a exigência era muito menor.. Quem quer que seja despedido com essa idade, vai passar um muito mau bocado na vida...

Recém-licenciados. Pessoas com 24 anos que estudaram desde os 6. São 18 anos a saber coisas, a construir conhecimento, a evoluir intelectualmente. E depois? Jumbo, Modelo, LIDL...

Neste ponto culpo em particular o Governo. Enquanto continuar a existir uma separação entre as Universidades e as Empresas, este número será, infelizmente, crescente.

Outra da realidades do ensino superior é a falta de educação e de motivação dos alunos para o empreendedorismo.
Há uns tempos ouvi uma entrevista em que um Pai dizia que o Filho estudava no Estados Unidos da América e, como trabalho para uma disciplina de Matemática tinha que gerir uma empresa cotada em bolsa. Para uma disciplina de Lingua Inglesa, tinha que escrever um livro.

Achei uma ideia genial!!! Ouvi o resto da entrevista... Parece que o filho andava na escola primária...


Sinceramente, sem comentários...

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Crise

Estávamos em crise.

Os centros comerciais que proliferam como cogumelos estavam vazios. Aliás, nem se construíam centros comerciais.

Os transportes públicos estavam cheios. Aliás, nem se via um carro na rua. E os carros que conseguiam circular estavam sempre com todos os lugares ocupados para poupar, dividindo a gasolina.

Metade da população que fumava (em média, são 100 € por mês), deixou de fumar. Aliás, fecharam 10 tabaqueiras nos últimos meses.

Fecharam bancos que não eram corruptos (importante a distinção). Uma facturação diária de 5 M de euros por dia era uma coisa impensável.

Os restaurantes estavam vazios, os cinemas também, as lojas às moscas.


Pois...

Estamos a sair da crise. Apesar dos 19376 subsídios que o estado paga e que desconta da classe média (entenda-se por classe média aquela que ganha um ordenado de 1000€ por mês, ou seja, qualquer licenciado altamente especializado), conseguimos sair da crise.

O crescimento económico no último trimestre foi de 0,9% (!), ou seja, as pessoas começaram a comprar, o país começou a exportar. Em última análise, demos um saltinho no tempo até uma civilização evoluída.


E vai-se a ver, se trabalharmos, ganhamos dinheiro!!! Se trabalharmos, deixamos de depender de subsídios!!! Se trabalharmos, o país deixa de estar tão sobrecarregado com a despesa pública e tem dinheiro para investir!!!

Parafraseando,

"Vai mazé trabalhar"...


Mas custa tanto...

domingo, 15 de novembro de 2009

Bem-vindos

No início era uma ideia.

Com o tempo era uma vontade.

Agora era uma necessidade.

Bem-vindos, estão realmente em vossa casa.


NMO